Que o Nosso Olhar não se Acostume às Ausências
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"Que o nosso olhar não se acostume às ausências", livro de estreia de Waleska Barbosa, demonstra desde o título, o agir e o pensar da autora em palavras. Mulher. Preta. Nordestina. Paraibana. Mãe. Filha. Irmã.
A mistura de um Nordeste que carrega como raiz, ao tempo em que agita seus galhos/olhos/alma por ambientes urbanos e cosmopolitas, internos ou do mundo, revelando em crônicas, prosas poéticas e poemas de pés-quebrados, o seu próprio olhar para questões como os amores e afetos desenvolvidos e (re)construídos, a violência e o feminicídio objetivo ou simbólico, a maternidade solo, o genocídio do povo negro e o racismo engendrado numa sociedade que diz incluir, mas exclui ao fugir o olhar aos corpos negros, ausentando-lhes os privilégios da branquitute.
São memórias e vivências que permeiam a vida da própria autora, mulher preta da segunda idade, como se define. São histórias que lhes foram narradas. São as que viu outras mulheres vivendo. As que não desejaria para ninguém. As que sonha para todas.
Morando há quase vinte anos em Brasília, Waleska rompe quaisquer tentativas de limitações de espaços – geográficos ou subjetivos – para chegar ao público e tirar dele reações. Questiona padrões e jugos, comuns a todas e todes. "Que nosso olhar não se acostume às ausências" coloca o leitor diante dos fatos mais pueris do dia a dia e expressa, pelo ritmo de sua escrita, dureza e contundência ao apontar problemas sociais estruturantes.
O livro tem gênero. É feminino. É feminista. É mulher. Sentimentos. Memórias. Risos. Lágrimas. Dúvidas. Certezas. É difícil não viajar para dentro ao se deixar conduzir por suas palavras.
Como diz a escritora Laura Castro: para não nos acostumarmos com as ausências, precisamos da presença viva, brilhante, como essa que emana da voz de Waleska Barbosa.